Carmen cantando Adeus Batucada

Publicado 15 de Maio de 2012 por Biancamaria Binazzi
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Depois de Londres, Caetano deu o maior susto naquela juventude que queria mudar o mundo, e esperava as mais eletrificadas revoluções musicais. Caetano chegou olhou no fundo do olho da Tv, e tocou no violão Adeus Batucada. Tinha ido embora chorando, mas com o coração sorrindo. Ninguém entendeu bem, mas Carmen era o Pós-Tropicalismo de Caetano Veloso.

A original da Carmen Miranda mesmo, cantando o samba do Sinval Silva em 1935:

“…eles mostraram esperar de mim uma versão mais madura e mais sofisticada daquilo que estavam aprendendo a cultuar: uma fusão do pop inglês com o samba-jazz carioca. Entrei apenas com meu violão e cantei “Adeus Batucada”, o genial samba de SInval Silva que fora  a mais bela gravação de Carmen Miranda. Nada podia ser mais fiel à história tropicalista: um contraste gritante com o samba-jazz e com a fusion, uma referência à Carmen Miranda (e justamente com um samba em que a grande exilada da música popular brasileira dizia que ia embora -chorando, mas com o coração sorrindo – pois ia – deixar todo mundo valorizando a batucada – a garotada ficou perplexa e decepcionada”

(Pedaço do Verdade Tropical, pag. 466, sobre a participação de Caetano no programa Som Livre Exportação, apresentado por Ivan Lins na TV Globo)

Tristes Fogueiras

Publicado 26 de Junho de 2011 por Biancamaria Binazzi
Categorias: Cabelos Brancos, Noel Rosa

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Enquanto o balão ia subindo colorido e festeiro nas noites de Junho dos tempos setenteônicos, dois discos discaram desafios a São João, ardendo nas fogueiras as mais sentidas lágrimas de amor de meus autores preferidos: Lupicínio e Noel.

Cigarros Bomba - 1905

Pra São João Decidir (Lupicínio Rodrigues e Francisco Alves) – 1952

Uma das últimas gravações de Francisco Alves,  que cantou os cotovelos do Lupi como ninguém. Desta vez, o poeta da lua é desapontado em simpatia de São João, e ele chora a traição do Santo vendo a lenha se queimar!

Naquele dia, levantei de madrugada
Por que a noite passada
Eu não consegui dormir

Rosinha disse que ia por num papelzinho
O meu nome e o do vizinho
Pra São João decidir

O que ficasse de manhã mais orvalhado
Ia ser seu namorado
Ia com ela casar

E eu tinha tanta confiança
Neste santo
Que apostei um conto e tanto
Que era eu que ia ganhar

Sabem o que foi que eu vi quando rompeu o dia?
Vi foguete que expodia
Buscapé, lança rojão
Era o vizinho que já tinha triunfado
Festejando entusiasmado
O dia de São João

Então de noite
Foi mais grossa a brincadeira
Acendeu-se uma fogueira
Todo mundo foi pular

Só eu chorando a traição
Daquele santo
Soluçava no meu canto
Vendo a lenha se queimar

Balão Apagado (Noel Rosa e Marília Baptista) – 1931/61

Noel escreveu a letra de Balão Apagado em 1931, mas ela só foi musicada trinta anos depois, pela Marília Baptista, e gravada no mesmo ano pela Elizeth Cardoso com a orquestra COPACABANA. E eu fico aqui pensando…E se a Aracy tivesse gravado? Coisa linda!

Sobe, balão… Sobe, balão…
Por este céu azul sem fim,
Vai dizer ao meu São João
Que não se esqueça de mim.

Já mandei um balão com foguete
Levar um bilhete
Ao meu Antônio
E o balão, pra fugir do inverno
Entregou no inferno
O bilhete ao demônio!

Satanás respondeu ao recado:
“Balão apagado
Não entra no céu…
No inferno tu serás respeitado,
Tu tens tanto pecado
Que eu tiro o chapéu!”

Num balão que a chuva apagou
Alguém me mandou
Este triste recado:
“Eu espero ver a tua descida,
No céu da minha vida,
És balão apagado!”

(recomenda-se visitinha ao goma-laca.com)

Cabelos Brancos – Lado A

Publicado 2 de Maio de 2011 por Biancamaria Binazzi
Categorias: Cabelos Brancos

Tardinha morna, ele esperava na saída da estação e eu saía sem esperar ninguém.

No tempo rolante, “atenção, pais, segurem suas crianças” – e “’ai” de quem pisar na linha amarela!.  No alto, o taxista a postos, a visitante desorientada, o vendedor de balas e o rádio que toca notícias. Pedro Brás estava esperando.  E eu só passava.

O velho Brás esperou eu passar bem na sua frente para entoar num doce e bom tom uma canção antiga.

Minha vida, era um palco iluminado, e eu vivia vestido de dourado, palhaço das antigas ilusões!”.  Sim, era o Chão de estrelas, e aquilo poderia ser para mim. Pisava nos astros distraída? Logo eu? Observada em uma tardinha morna. Muita arrogância pensar que era para mim. Tanta gente passava por ali. Eu passava, e Pedro esperava, Brás…

Segui a pé, pensando no chão de estrelas pintado na estação. Tentando lembrar a letra da musica, Minha vida, ou sua vida era um palco iluminado? Nelson Gonçalves canta, Vicente Celestino e Silvio Caldas também. Chão de estrelas, de Silvio Caldas e Orestes Barbosa, mil novecentos e trinta e sete! Segui cantarolando em pensamento apenas a parte da musica que lembrava. E devagarinho era estrela. Em cima do palco, no meio do trânsito, no alto da tarde. Distraída. Eu passava.

O meu ouvido, absoluto, ouvia Nelson Gonçalves. Mas só um pedaço.

Segui, e cheguei. Desci do palco, desliguei o radio.

*

Longe daqui, vivia Pedro Brás.

Pedro Brás morava ao lado, bem perto daqui perto. A nossa distância era o tempo. Ele era vizinho, e nós dividíamos o mesmo tempo, Novembro de 2007. Mas ele cantava antigas canções, de um tempo que era dele, que não era meu.

O que ele esperava no metrô? Ele pensava no trem, noutros tempos. De terno branco engomado, cabelo bem arrumado e calçado novo. Pedro apanharia o trem para ir ao correio. Estava enamorado e tinha escrito uma carta. Como Pedro Brás quis saber escrever canções, entoar serestas ao luar… Ele trabalhou nos Correios por muitos anos. Conhecia muita gente e gostava de ficar com as cartas que não tinham destino bem definido. Depois, apanhou o trem e voltou para casa. Num tempo que não é meu, Pedro Brás ouvia o radio e pensava em Dora.

***

Queria Ouvir Pedro Brás só mais uma vez. Para lembrar o final da musica.

Noutro dia, enquanto subia as escadas do mesmo metrô, pensei que Pedro Brás poderia estar lá. Ele cantaria mais uma vez. E eu seguiria pelas ruas, estrela, como da outra vez.

Ele não estava. Eu esperava. O que eu estava pensando de Pedro Brás? Que ele não fazia mais nada? Só esperava, assoviando por aí? Esquecemos que Pedro Brás foi um funcionário modelo nos Correios, que amava Dora, e precisava comprar mais agulhas para a vitrola. Onde estaria Dora? O que fizeram com a minha Dorinha?

Pedro Brás passava. Enquanto eu ainda o esperava.

Ele segurava uma sacolinha de plástico com algo parecido com um envelope. Deviam ser as agulhas! Brás deve ter muitos discos. Limpos e bem conservados. Em casa, escolhe apenas um por vez. Limpa. Olha bem a capa enquanto ouve. Depois guarda.

Ali! Ele não vai parar? Ei, espera, canta mais uma!

Ele passou entretido com sua sacolinha de agulhas. Sintonizei meu ouvido  em um antigo samba, que o Brás deveria conhecer, e segui seguindo. Sei que é doloroso um palhaço…se afastar do palco por alguém! Volta, que  a platéia te reclama, sei que choras palhaço por alguém que não te ama!”

****

Não, Nelson Cavaquinho não combina com o  Pedro Brás. O homem do metrô é seresteiro, vai de Francisco Alves e Orlando Silva. Mania que a gente tem de juntar o passado num tempo só.

O Sr. Brás não tem dores no cotovelo. Ele ama Dora. E ela, adora!  O Sr. Brás gosta de serenatas, valsas bem valsadas e aquele aperto de mão.   Queria seu Brás e mais uma canção. Eu esperei, e ele passou.

Por que ele não gostaria dos sambas do Nelson Cavaquinho? Precisava ter certeza. Algo me dizia que ele conhecia, e muito bem, pelo menoso Palhaço. Dito e feito.

*****

A outra vez que vi Pedro Brás foi na farmácia. Reconheci o seresteiro pelo saquinho plástico. Ele estava no balcão, apontando alguma receita . Posicionei-me atrás dele, mas de costas.  E, meio tímida, assoviei baixinho o Palhaço. Ele caiu em minha armadilha! Não se conteve, e em alto e bom tom cantou.”sei que é doloroso um palhaço..”  Sem virar para trás, ele cantava e olhava fundo nos olhos do farmacêutico. Como faz bem ouvir alguém cantar com o coração! O farmacêutico agradeceu: Esse é o meu amigo Brás, sempre animado! E a Dona Dora, como está?

Ela estava melhor, mas ainda não havia se recuperado totalmente. Brás estava preocupado, porque ela não queria mais saber de comer. Só tomava um copo de leite com torradas no meio da tarde.  No mais, estava tudo certo. O Doutor Marcos disse que os comprimidos são muito fortes e tiram o apetite mesmo. Em uma semana ela já estaria comendo de tudo.

Que sorte a minha, ouvir o Brás na farmácia! E pensar que ele não conhecia Nelson Cavaquinho!!! Agora as portas se abririam. Pedro Brás também cantaria a dor de cotovelo, o samba do morro, cantaria seu primeiro amor, a rosa vermelha e a branca, uma valsa, uma saudade, a escola do malandro. Ele me apresentaria novas melodias, novos velhos causos da cena carioca. Um tipo sabiá cantador! E eu passaria a armazenar cada fragmento de sua memória na minha.

Ele despediu-se do farmacêutico e sumiu. Nem deve ter percebido que, atrás dele tinha alguém que fazia som baixinho, esperando por ele. Eu conheci um homem que cantava antigas canções, e só pensava nisso.

Como era difícil encontrar Brás pelo bairro, passei a procurá-lo nos discos. Buscava em cada álbum a musica que mais combinaria com a sua voz. Também ouvia diferentes gravações de uma mesma composição com o mesmo intérprete. E as cantoras?! Aracy de Almeida, Dalva…. Tinha a impressão de que ele não tinha muitos discos da Carmem Miranda. Ele gostava ouvir e re-ouvir a Isaurinha cantar Linda Flor. Henrique Vogeller, 1948. “Ai ioiô, tenha pena de mim..fui olhar pra você, meus olhinhos fechou…”  Ele cantava para  a Dora ficar boa. E ela fechava os olhos para ouvir.

Daria tudo para poder ouvir ele cantar. Só mais uma vez…

****

Desta vez foi na praça.

Era bem cedo, e já da janela eu ouvia a voz do cantor. “Soltei meu primeiro pombo correio, com a carta para aquela mulher que me abandonou. Soltei o segundo, terceiro, meu pombal terminou. Ela não veio, nem o pombo voltou…”

O pombo correio é parente próximo da serenata. Não tem nada mais lindo que falar de amor via pássaros e canções.  A janela aberta, a calçada, um carinho. Saudades da São Paulo das columbas! Ouvir aquelas melodias era ganhar mais tempo. Um tempo que andava para trás. Eu não queria ganhar mais anos de vida, viver até os 120, isso não! Mas seria interresante ganhar alguns anos para trás. Caminhar pela São Paulo dos seresteiros. Tropicar pelos botequins. Escapulir do trem antes do cobrador puxar a cordinha, e coração dando pinote! Ouvir a musica que vem do radio e da janela.

Acompanhar as cantorias do meu ilustre vizinho me dava de presente este passado.

As buscas eram cada vez mais intensas. Discos e mais discos, agulhas e mais agulhas! Agora era eu quem caminhava de saquinho plástico pelo centro da Cidade em busca de agulhas e velhas melodias.

Meu ouvido andava afinadíssimo. Descobri que cantar por aí não é um habito exclusivo de Pedro Brás. Andei reparando que, como eu, todos tem um radio preso no ouvido, e há sempre uma musica tocando lá dentro. É o tipo de musica que fica na cabeça o dia inteiro! E não há o que a faça desaparecer! Até que chega o momento em que a gente não agüenta, e a musica vaza por algum espaço. E, liberamos a criatura, canta-se, batuca-se, assovia-se. Alto, ou baixo. Completa ou incompleta. E aí, a música fica publica, e ninguém sabe em qual ouvido ela pode parar. E por quanto tempo ela é capaz de ficar por lá.

***

Deu no Radio:

Fica proibido cantar pelas ruas. Outras ameaças sonoras como assovios e batucadelas em vias públicas, a partir de agora também são atividades proibidíssimas.

***

O que Pedro Brás fez com a regra eu não sei. Acredito que continuou ouvindo música em casa, e cantando baixinho para não acordar a Dora.

E de repente, meu radio tocava noticias. Sintonizava normas e projetos para o futuro. São oito horas e vinte minutos. Amanha vai chover. Transito tranqüilo, por enquanto.

De repente, não havia mais musica. Para mim, ela não vinha.

Estava de volta ao meu tempo. Um tempo que era meu, e de Pedro Brás também. Tempo de janela fechada e silêncio zumbindo na rua. Um tempo de pouco carteiro e, sem pombo correio.

Eu olho a rosa na janela, e penso nas canções que poderiam ser para ela.

Em tempos de silêncio, meu radio toca noticia.

*****

É preciso discutir

Publicado 30 de Março de 2011 por Biancamaria Binazzi
Categorias: Noel Rosa

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Ô Dick,

Ouve que linda a Teresa da Praia do Noel.

Mario Reis e o Chico Alves, na praia, com a Orquestra Copacabana, 1931.

Deixa-me gritar!

Publicado 24 de Fevereiro de 2011 por Biancamaria Binazzi
Categorias: Cabelos Brancos

Publicado na Revista da Semana (RJ)


“veja ilustre passageiro

o belo tipo faceiro

que o senhor tem a seu lado

mas no entanto acredite

quase morreu de bronquite

salvou-o o Rhum Creosotado”

Cordiais Saudações

Publicado 12 de Janeiro de 2011 por Biancamaria Binazzi
Categorias: Uncategorized

Tia Elsie, Dona Carmen, Ariba, Lupi,

tudo bem por aí?

Diz para a dona Oneyda, que o nosso encontro está positivo, e eu não esqueci o seu aniversário de cem.

Por onde andam nossos companheiros-guia, Chiadofone e Coisa da Antiga?

Peço desculpas pelo sumiço, mas ainda não aprendi a mandar notícias nesta fita. Saudades de conversar com vocês pelo Rádio.

Por aqui anda tudo bem. Devagarinho vou ouvindo, lendo, dividindo. Em breve, voltaremos a nos encontrar com a frequência e intimidade daquele tempo. Tempo bom, tempo ruim.

Ganhei dois livros estimulantes do meu bem: Elsie Houston e Acertei no milhar. A Elsie vem com faixas setenteônicas, pitadas de Mario de Andrade, gosto de Villa-Lobos e Patricio Teixeira. O segundo, sambas danados e historietas da malandragem pré e pós Getúlio (bem que o Marcio Barker anunciou).

Os cds também estão frescos, esperando para girar. Chico Alves e Dalva. Chico Alves e Mario Reis, e o pessoal de Recife em 78 rpm. E ainda, o Coqueiro Velho, que tinha na discoteca da Radio Cultura, com as queridas e mil vezes programadas “Amigo Urso” e “Esta noite eu tive um sonho”, Moreira da Silva.

Os estímulos são mil. Só falta sair rodando. Setenta e oito rotações por minuto. Por segundo, rotações. Do minuto, ao milênio.

Quem vem comigo?

Melodia africana

Publicado 5 de Junho de 2010 por Biancamaria Binazzi
Categorias: Uncategorized

Presente do Ronaldo: J.B de Carvalho e Odete Amaral, 1938.

A primeira gravação do Brasil

Publicado 3 de Maio de 2010 por Biancamaria Binazzi
Categorias: Casa Edison

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Tudo começou com Frederico Figner, um imigrante tcheco que trouxe para o Brasil um invento do Thomas Edison, o Phonógrapho. Ele fazia apresentações com essa maquineta que tocava em cilindros de cera,  vozes de pessoas. O instrumento, tão elegante que tinha até dois phs, era vendido junto com as vozes em cilindros pelo Figner, em sua Casa Edison. Fred também ia até a casa dos fregueses apresentar a “maravilha colossal”. Isso tudo por volta de 1892.

Mais tarde, já nos novecentos, Figner era representante da fábrica Zon-o-phone, e montou o nosso primeiro estúdio de gravação. Tempos de gravar música brasileira! Bahiano foi cobaia e gravou um lundu apimentado de Xisto Bahia:

Isto é bom, 1902.

Quem dorme junto tem frio, que fará quem dorme só?

Pixinguinha e Benê no YouTube

Publicado 20 de Abril de 2010 por Biancamaria Binazzi
Categorias: Choro

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Antes de subir no Palco com Benedito Lacerda e Regional para tocar Carinhoso, Pixinga apresenta a sua casa e o pianin.